terça-feira, 5 de maio de 2009

Brasil é referência no uso de energias limpas

Gazeta Mercantil: Há mais de três décadas, as previsões já apontavam que a busca por energias alternativas seria a única forma de reverter a escassez do petróleo, fonte de combustível que se tornou, ao longo de décadas, a principal alavanca para as constantes guerras no Oriente Médio. Naquele tempo, pouco se pensava em meio ambiente. O fator primordial era meramente econômico.

Pioneiramente, o Brasil inovou na década de 1970 com o programa ProÁlcool. Os brasileiros aderiram à ideia, apostaram no carro movido com o novo combustível, que não tardou a se tornar um pesadelo por questões políticas e econômicas. O programa, que inicialmente contava com incentivos, teve corte de subsídios durante os planos econômicos no Governo Sarney e, como resultado, a demanda de álcool tornou-se maior que a oferta, o preço do produto subiu, faltava combustível nas bombas dos postos e conseguir abastecer o carro era um sufoco. Mais uma vez, o país caía em descrédito.

Mas toda aquela experiência não foi em vão, muito pelo contrário. Poucos anos se passaram até o desenvolvimento dos bicombustíveis pela indústria automobilística, levando ao esquecimento aqueles anos sombrios. Tanto que, hoje, 90% dos novos veículos comercializados são flex, o que trouxe também um novo marco ao país: graças ao etanol, o Brasil conquistou a auto-suficiência do petróleo, tornou-se uma referência mundial e um exemplo a seguir, não apenas no combustível que move a frota automotiva como também no uso de energias alternativas.

Atualmente, 46% da nossa matriz energética é renovável. O Brasil é líder mundial em uso de energias limpas e isso se deve principalmente à produção das hidrelétricas que, junto com as usinas nucleares, respondem por 83% da eletricidade no país. São percentuais que incomodam muitas outras economias, que têm grandes desafios para alcançar esses patamares, simplesmente por falta de recursos. Um exemplo típico é a China, país em que a dependência do carvão, matéria-prima mais poluente entre os combustíveis, é de 70% em sua matriz energética.

Mas, sem se gabar muito, mesmo sendo o Brasil uma referência no uso de energias renováveis, quando o assunto é emissão de poluentes, estamos bem longe do ideal. As queimadas e o desmatamento das florestas respondem por 75% do total de emissão de poluentes no país, o que coloca o Brasil em 5º lugar entre as nações mais poluidoras do mundo. E uma coisa não compensa a outra. Por enquanto, conforme afirma José Carlos Grubisich, presidente da ETH Bioenergia, em entrevista ao Giro Business, "matriz limpa, renovável e as grandes reservas de petróleo farão do Brasil um país muito importante no mapa energético mundial".

Desafio do etanol
Com anos de experiência adquiridos no desenvolvimento de elevada tecnologia na produção de etanol, o Brasil comprova que a matéria-prima mais eficaz é a cana-de-açúcar na produção do combustível, por produzir dez vezes mais energia em comparação ao milho, à beterraba ou à mamona. "Essa é a grande oportunidade do Brasil", destaca Grubisich, informando que além de cada hectare de cana produzir, em média, 7 mil litros de etanol, mais do que o dobro do milho, o bagaço da matéria-prima, antes deixado de lado, pode ser convertido em energia elétrica. "Esse ciclo produtivo, etanol mais energia, faz com que esse modelo de negócio no Brasil seja imbatível em comparação a outros produtos agrícolas de outras partes do mundo. Também o uso do etanol da cana-de-açúcar permite reduzir em 89% as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo de modo efetivo para mitigar as mudanças climáticas. Assim, a cana-de-açúcar é uma resposta de competitividade tanto para as questões energéticas, como também pela retirada de gás carbônico da atmosfera".

O desafio, afirma o executivo da ETH, é melhorar a produtividade, reduzindo custos e acompanhando a demanda. Para isso, há potencial. Do total de área plantada no país, 73 milhões de hectares, a cana representa 10% do total e ainda há uma demanda de 106 milhões de hectares não explorados que podem ser destinados à agricultura, sem que se necessite "invadir’’ a Amazônia Consumo de água.

Cada vez mais escassa, a água é um recurso natural que tem sido tema de pautas das mais diversas mesas de debate ao redor do mundo, principalmente em função das mudanças climáticas que podem influenciar diretamente na sua disponibilidade. Na agricultura, o setor rural brasileiro consome 82% da água disponível, sendo que deste total a maior parte (69%) é destinada à irrigação. O que se faz mais do necessário é a adoção de políticas alternativas em prol do recurso. "O agronegócio já se conscientizou de que a água é uma fonte de recurso rara e que, ao longo do tempo, será ainda mais escassa e cara. No caso do setor sucroalcooleiro, já estão sendo desenvolvidas novas variedades de cana-de-açúcar mais resistentes, que requerem menos água para crescer. Também as usinas têm investido no reuso da água, para resolver essa questão", afirma Grubisich.

E que assim seja, pois se, ao mesmo tempo, nos orgulhamos de nossas maiores reservas hídricas do mundo - com um total de 12% da água doce do planeta -, temos também 70% dos nossos rios, somente nas regiões Sul e Sudeste do país, contaminados. Portanto, aí está mais um tema para a pauta de nossos governantes que não pode ser postergado.

Futuro alternativo
Com o desenvolvimento das fontes renováveis, a matriz energética brasileira é um grande exemplo para as economias mundiais. Não apenas para a China, como citado anteriormente, mas também para os países europeus e os Estados Unidos, que precisam ainda de grandes passos para promover o crescimento sustentável. Os Estados Unidos e o Japão, por exemplo, já declararam que em 40 anos reduzirão suas emissões de poluentes em 80% e, até mesmo a China, tem como meta chegar a uma matriz energética mais ecologicamente correta com investimentos de cerca de US$ 221 bilhões.Enquanto isso, por aqui, a meta do Governo é reduzir cada vez mais a dependência do petróleo, chegando a 30% em 2030, 8,7 pontos percentuais a menos que em 2005.

PROCANA.COM (SP) • ÚLTIMAS NOTÍCIAS • 4/5/2009 • 10:55:00

Nenhum comentário:

Postar um comentário